Os visitantes, alguns com o rosto sério, mesmo severo, outros a sorrir contrafeitos, mas todos fortemente acanhados, inclinaram-se e tomaram lugar à mesa. Mais acanhado do que todos se sentia o capitão Riabóvich, um oficial baixinho, de ombros caídos, caixa-d’óculos, de suíças lembrando um lince. Enquanto os colegas se mostravam cheios de seriedade ou sorriam encabulados, suas faces, as suíças de lince e seu par de óculos pareciam explicar: "Eu sou o mais tímido, modesto e insignificante oficial de toda a brigada". Depois que se sentou à mesa levou ainda algum tempo sem poder fixar a atenção em coisa alguma ao redor de si. Rostos, vestidos, os frascos burilados do conhaque, os compridos copos a deitar fumaça, as cornijas modeladas — tudo se confundia num só e dominante sentimento que lhe causava intenso terror e quase o forçava a procurar um buraco onde meter a cabeça. Como inexperiente conferencista, ele via todas as coisas diante de si sem nada poder distinguir, e era com efeito uma vítima disso que os homens de ciência diagnosticam como "cegueira psíquica".
De " O Beijo", Anton Tchecov.
2 comentários:
Tenho de ler Tchecov! Tenho de ler muita coisa ainda! Ou não...
Ficou massa o desenho mermão!
Tchecov... sou seu fã, Paulinho!!
Estou esperando o roteiro... e uma certa ilustração de Ken Parker...
risos...
Abração
Postar um comentário