quinta-feira, outubro 22, 2009

Riabóvich




Os visitantes, alguns com o rosto sério, mesmo se­vero, outros a sorrir contrafeitos, mas todos forte­mente acanhados, inclinaram-se e tomaram lugar à mesa. Mais acanhado do que todos se sentia o ca­pitão Riabóvich, um oficial baixinho, de ombros caídos, caixa-d’óculos, de suíças lembrando um lince. Enquanto os colegas se mostravam cheios de serie­dade ou sorriam encabulados, suas faces, as suíças de lince e seu par de óculos pareciam explicar: "Eu sou o mais tímido, modesto e insignificante oficial de toda a brigada". Depois que se sentou à mesa levou ainda algum tempo sem poder fixar a atenção em coisa alguma ao redor de si. Rostos, vestidos, os frascos burilados do conhaque, os compridos copos a deitar fumaça, as cornijas modeladas — tudo se confundia num só e dominante sentimento que lhe causava intenso terror e quase o forçava a procurar um buraco onde meter a cabeça. Como inexperiente conferencista, ele via todas as coisas diante de si sem nada poder distinguir, e era com efeito uma vítima disso que os homens de ciência diagnosticam como "cegueira psíquica".

De " O Beijo", Anton Tchecov.

2 comentários:

Pablo disse...

Tenho de ler Tchecov! Tenho de ler muita coisa ainda! Ou não...

Ficou massa o desenho mermão!

Lucas Pimenta disse...

Tchecov... sou seu fã, Paulinho!!

Estou esperando o roteiro... e uma certa ilustração de Ken Parker...

risos...

Abração