Gostaria de agradecer a visitação que o blog vem recebendo. Eu coloco essas coisas aqui, porque tenho muita vontade de desenhar e escrever, mas porque quero muito dividir minhas experiências e conversar com os outros. Dizer o que acho e saber o que acham. Por isso, agradeço muitíssimo às pessoas que comentam ou que simplesmente registram sua visita, seja nos comentários ou nos recados da capa. Muito obrigado mesmo.
Obrigado, ainda, a quem vem, mas não deixa rastro. Engraçado como muitas pessoas dizem para mim que viram o blog, mas não deixaram comentários. São os tímidos e eu agradeço a eles também.
Obrigado aos preguiçosos, aqueles que passam por aqui e assumem que têm preguiça de escrever, mas falam pessoalmente ou por telefone (que nos dias de hoje é quase um pessoalmente também).
Agradeço aqueles que mandaram alguma contribuição ou idéia, os participativos, valeu.
Agora, MUITO OBRIGADO MESMO aos amigos que mandaram fotos. Esses admiradores do blog que, mais do que participar, querem fazer parte deste espaço, que no fim das contas, é de todos nós mesmo.
Arkadi olhou admirado para o homem e pensou: “Está certo, é bom que as pessoas de meia idade, talvez até algumas já mais idosas, continuem a jogar tênis, mas com certeza chegará um tempo em que, por uma questão de decência, é preciso desistir”.
O homem à sua frente usava calça de flanela branca, cada perna parecendo um saco, calçava tênis sujos e vestia uma camiseta já amarelada. Naturalmente, passava dos sessenta. Era baixo, quase um anão e muito gordo. Estava distante do pavilhão de tênis do Hurlingham Club, aparentando esperar por alguém. Arkadi nem sequer suspeitava de que o homenzinho estava esperando por ele. O gordinho tinha a cabeça, grande e redonda, coberta por uma peruca ruiva. Além disso, mascava chicletes e toda hora cuspia para o lado, sem querer saber se havia gente por perto, na trajetória do cuspe.
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Já falei aqui da minha enorme ignorância a respeito de assuntos que gosto muito e que, por isso mesmo, deveria conhecer um pouco mais (como música e literatura). O que ainda não mencionei é que isso me proporciona algumas surpresas muito legais. A última delas se chama George Mikes.
Sei que muita gente vai dizer que ele é famosíssimo, que escreveu vários livros e nem vai acreditar que eu não o conhecia. É isso mesmo, o que eu posso fazer? O fato é que lendo “O espião que morreu de tédio” fui iniciado neste autor super engraçado e despretensioso. Diversão garantida.
O livro é uma sátira bem-humorada dos romances de espionagem e traz todos os ingredientes que estas histórias devem ter, sexo, intriga, romance, mistério, tudo de um jeito diferente e inusitado. É um pouco ingênuo em algumas partes, mas é o tipo de humor que eu gosto.
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O espião que morreu de tédio
Título do original em Inglês: The spy who died of boredom
A Srta. Lynch... srta. Lynch. O “senhorita” já fazia parte do nome dela, e parte dela mesma. Acho que ela nunca mais será capaz de extirpá-lo. O nariz dela fica mais vermelho a cada ano, mas é sinusite, não bebida.
- Bom dia, Ethan – ela disse. – Está comemorando alguma coisa?
- Ele me arrastou para cá – respondi, e então, como que fazendo um exercício de simpatia, acrescentei: - Annie.
A cabeça dela se voltou como se tivesse ouvido um tiro e então, quando absorveu a idéia, sorriu e, sabe o quê? Ficou com a mesma cara que tinha na quarta série, o nariz vermelho e tudo.
- É bom vê-lo, Ethan – ela disse e assoou o nariz com um guardanapo de papel.
- Quando ouvi, fiquei surpreso – Morph disse. Puxou o papel do cubo de açúcar. Tinha as unhas feitas. – A gente tem alguma idéia, então ela se fixa e a gente fica achando que é verdade. Levamos um susto quando descobrimos que não é.
- Não sei do que você está falando.
- Acho que eu também não sei. Estas embalagens são uma desgraça. Não sei por que simplesmente não os colocam soltos em uma tigela.
- Talvez porque aí as pessoas vão usar mais.
- Acho que sim. Conheci um sujeito que ficou um tempo comendo só açúcar. Ele ia ao Automat. Pagava dez centavos por uma xícara de café, bebia a metade, enchia de açúcar. Pelo menos não morreu de fome.
Como sempre, fiquei imaginando se o sujeito não seria o próprio Morph: um homem estranho, durão, sem idade e com unhas feitas. Acho que ele era um homem bastante educado, mas só por causa da sua maneira de agir e de seu modo de pensar. Sua erudição se escondia em um dialeto de palavras de baixo calão, a linguagem dosiletrados inteligentes, duros e exibidos.
O Inverno da Nossa Desesperança
Título do original em Inglêsl: The Winter of our Discontent
Este é o último livro que li. Como sempre falei muita besteira, vivo pedindo desculpas ou atualizando minhas impressões a cerca das coisas. Sendo assim, lá vai mais uma correção: eu gosto dos escritores americanos. A ignorância é uma doença cuja vacina deve ser ministrada diariamente. O mais importante é começar o tratamento cedo.
Tenho até medo de comentar este livro, mas sei que algumas pessoas gostam que eu o faça (acho que só você, Miau), por isso vou me arriscar.
O que mais me chamou a atenção neste livro foi o caráter despretensioso que o autor imprime, mesmo quando trata de assuntos muito profundos. O engraçado é que esses assuntos são as coisas corriqueiras, o cotidiano, mesmo porque, a falência de nosso mercadinho nos atinge muito mais do que a morte de milhões de desconhecidos do outro lado do planeta (isso em termos práticos, não me achem insensível).
Outra coisa que me marcou foi a construção dos personagens, principalmente o principal; Um personagem diferente transforma o livro em divã. Nele, serão discutidos os pequenos problemas do cotidiano que são o verdadeiro pano de fundo das grandes tragédias. Um livro sobre honestidade, sobre trabalho e sobre valores que são tão proclamados pela sociedade quanto incompatíveis à sua própria estrutura.
Desculpem qualquer coisa. Hoje é domingo e eu já tomei uma cerveja.
(Adoro essas frases de abertura que viram um parágrafo inteiro. Elas transformam qualquer besteirinha em uma besteira grande.)
Acho que nunca havia lido uma biografia séria antes, mas comecei em grande estilo com o livro “John Lennon, A Vida” de Philip Norman.
Sempre fui muito fã dos Beatles e em especial de John, mas não esperava que a sua personalidade e gênio criativo pudessem ser tão grandiosos. Confesso que no começo me senti um pouco decepcionado com as descobertas que fiz ao penetrar na vida de Lennon, mas o livro trata a pessoa com justiça e o artista com um cuidado especial.
Além recomendar o livro a todos que gostam de Beatles, música, artes, história da cultura pop, século XX e contracultura, divido com vocês a experiência de um iniciante em biografias.
Descobri que ler a biografia de uma pessoa, seja ela um ex-penitenciário, um estadista, um ídolo pop ou um revolucionário, pode esclarecer muito sobre nós mesmos e as pessoas que nos cercam. Uma biografia é uma olhada cuidadosa e atenta no próximo, coisa que nem sempre temos tempo de fazer. Ao ler a história de John Lennon, vi muito de alguns amigos refletido no comportamento dele e vi muito de mim mesmo. Afinal, somos todos mais ou menos parecidos, com nossas fraquezas, necessidades e sonhos. Achei muito interessante olhar de perto e com atenção para alguém, tentar entender essa pessoa e ver quanto de mim existe ali. Acho que isso torna a gente mais tolerante e nos ajuda conhecer e escolher quem está a nossa volta.
No fim das contas, foi um livro que mexeu muito comigo: fiquei triste, estimulado, revoltado, surpreso, decepcionado, orgulhoso, curioso e emocionado. Foi difícil me afastar dos romances, mas acho que foi um primeiro passo importante na abertura de novos horizontes.